Arquitetura da Informa��o (em Portugu�s)

["Cassiano > Matriz [listas]" <listas AT matrizmkt.com>]

AIs,
Retomo sem pressa a intervenção do Charlley. Essa conversa começou com o Irapuan, em maio de 2005, ao questionar: AI pra quê? Isso está nos 
arquivos dessa lista. Na época, o Fred, o Guilhermo, o Rufino e outros daqui tb intervieram. O artigo que inscrevi no Ebai nasceu a partir daquela conversa, embora a minha "base teórica" fosse meu próprio livro, escrito entre 2000 e 2003.

Esqueci de incluir na minha réplica original dois pontos que julgo importantes na questão DI e CI: 1) A história do DI carrega com muita força e intimidade o conceito de usabilidade (hoje ampliado para a idéia de "experiência do usuário"); e 2) A idéia de objetivos mercadológicos ou estratégicos. Por isso, minha proposta de definição de AI inclui essas idéias, duas características vitais que não existem com tanta força na CI.

A história das mídias tem relação com o DI, em vários sentidos. E menos com o CI, por mais paradoxal que isso possa ser. Vamos ao comentário.

On 10/25/07, Charlley dos Santos Luz < charlley_luz AT conectt.com.br> wrote:
... A Ciencia da Informacao surgiu em finais do século XIX... (...) para falarmos de organização da informação, com certeza falamos da ciência da informação... O Otlet por exemplo tinha a ambição de organizar todo o conhecimento humano (que gerou as linguagens de indexação)... Palavras como indexação, taxonomia, linguagens descritivas, vocabulário controlado, descrição vem da CI.... A Ciência da Informação... encontra a seu objeto de estudo nos processos relativos a produção, organização, transmissão e uso da informação...

Bem, se a CI surgiu em XIX, a organização da informação na mídia surgiu muito antes. Naquele séc. 19, o mundo já estava recheado de jornais e revistas. Como essas mídias conseguiram nascer, crescer e sobreviver durante quase três séculos sem contar com a existência formal da CI?
Isso é uma evidência de que essas coisas têm modelos diversos. Organizar a informação é uma coisa. Organizar a informação orientada à comunicação é outra coisa, embora exista, claro, algo em comum nisso tudo.

> OU SEJA, definidamente não é forte...

Deixa pra lá, então...

>
... Só os tolos veneram suas ferramentas.

Na minha primeira leitura, não tinha visto isso. Bem, *isso* é forte... Não entendi o motivo do tom, mas vamos dizer que não se refere a mim, pois não fiz qualquer "veneração" dessa natureza. Defendo uma visão editorial quando se constrói sites com sentido de mídia. Simples, não? Se isso é "venerar" algo, então precisamos entender melhor a palavra "método".

No contexto discutido até então, mídia é um ambiente de criação, onde, aí, sim, a idéia de um mecanismo de busca pode muitas vezes ser mais eficaz do que rotulagem e classificação.
Talvez a "tolice" tenha vindo daqui, mas essa foi uma leitura superficial de uma afirmação minha dentro de um debate contado no relógio, natural num evento multitemático.

Mas posso argumentar na mesma moeda: só os tolos não veneram a importância das ferramentas no processo civilizatório. Até a linguagem pode ser vista como ferramenta. Pedra lascada, roda, celulares — contar a história humana é, em muitos aspectos, contar a história de suas ferramentas.

Mesmo os teóricos que criaram a AI no séc. 19 só conseguiram fazer isso em função das ferramentas da época: papel, tinta, gavetas de madeira ou metal e uma linguagem baseada numa "ferramenta" chamada alfabeto, invenção de fenícios e gregos.

... A gente pode ver hoje que a organização, uso e disseminação passa pelas ferramentas....

Bem, estão as ferramentas são importantes...

As ferramentas não pensam ontologicamente como nós. A rotulagem e classificação usa como base as linguagens documentarias como vocabulários controlados por exemplo...
... a AI originada da CI é a que utilizamos... quando você agrupa informações sob um rótulo isso chama-se na CI de CATEGORIZAÇÃO. Quando definimos os grandes grupamentos informacionais, que dão origem aos links, na CI isso é TAXONOMIA. Quando definimos os labels, com foco ou não no usuário, isso chama-se LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA na CI. Será que existe isso no DI?

Não, não existe. Mas no DI existe a usabilidade e a resposta a uma necessidade mercadológica. Isso existe na CI? Não creio, pelo menos no mesmo nível de compromisso. Ainda considero mais fácil o DI evoluir para encampar as questões acima do que o contrário.

Outro aspecto: se o trabalho da CI termina nas fases acima, o trabalho editorial está apenas começando. Do ponto de vista editorial, essas etapas são um meio, não um fim em si mesmas, como tende a ser o trabalho da linguagem documentária. Isso faz diferença — também no planejamento anterior ao projeto.

>
... a AI como uma disciplina pode beber em várias fontes...

Sim, desde que não perca a visão de objetivos e a melhor metodologia para se atingi-los. Sempre que o objetivo for construir uma ação com viés de mídia, a melhor metodologia é a organização editorial. Se a CI fosse vital nesse tipo de processo, as redações no mundo inteiro teriam espaço para esse tipo de profissional, mas não é isso que se vê. Não estou defendendo, apenas constatando.

***

Em 2003, entrevistei o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, um dos mentores do jornal Valor Econômico. Isso está na 3a. parte do meu livro, ainda em produção. Criar um jornal do porte do Valor, do zero, é muito similar a criar um site de grande porte. Conceitualmente, os problemas são idênticos, muda apenas o suporte. Não?

Doutor em jornalismo, Carlos Eduardo é um especialista em processos editoriais. Conhece dezenas de redações no mundo inteiro. Foi um dos responsáveis pelo projeto Folha, anos 80, inclusive a diagramação modular, cuja implantação acompanhei de perto. Acho que sua especialidade é mensurar a produção jornalística. Pensei que fosse descobrir coisas inusitadas, mas descobri apenas o óbvio. Para mim, a entrevista é um dos pontos altos do livro exatamente por isso.

abs!
Cassiano

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