Arquitetura da Informação (em Português)

[reis <reis AT guilhermo.com>]

Cassiano,

Gostei dos seus comentários. Vou tentar colocar minha opinião, mas não sei se vou ser suficiente mente claro. Acho que o nosso debate estpa chegando nos limites do mundo on-line, precisamos de uma mesa e de cerveja para continuar . :-)


> Como leigo em gestão de bibliotecas, fico curioso em saber:
> 1) Como a biblioteconomia lida com o fato da informação digital ser
> basicamente recuperada via busca? Pra quê organizar, catalogar e
> perder tempo em dar nomes a estes bois se o mesmo tempo e $ pode ser
> investido em refinar o sistema de busca? Bibliotecas são diferentes,
> claro, pois são basicamente depósitos de material sólido. Tendo a
> achar que o label faz mais sentido do ponto de vista editorial, ou
> seja, o que se quer enfatizar com prioridade em relação a outras
> coisas; e em alguns momentos o label é simplesmente um novo de
> batismo, uma idéia que se apega ao veículo, sem qualquer
"lógica"
> científica que não seja a criação editorial pura e simples.

Vamos por partes.

A biblioteconomia esta fazendo um forte movimento para criar bibliotecas onlines, onde não se guarda material sólido e sim informação. E apesar da web trazer novos desafios, existem muitas teorias que existiam antes dessanova mídia que não se perdem

Por exemplo, a web permite apresentar diversar organizações ao  mesmo tempo coisa que é impossível em uma biblioteca física. Não dá pra se construir uma estante de livros com várias organizações ao mesmo tempo porque no mundo físico não existe link. Porém a idéia de ter várias organizações não é novidade. A biblioteconomia chama isso de classificação facetada (facet classification) e começou a pensar isso em 1930 com os trabalhos de Raganathan. Não existia o hipertexto, mas se utilizava catálogo de cartões.

Quanto ao sistema de busca existem 2 pontos
importantes. Primeiro é engano pensar que os usuários usam apenas o sistema de busca ou o de navegação. Os usuários usam ambos os sistemas de forma interativa. faz uma busca, clica num link, seleciona algo no menu, faz outra busca, etc. Assim, se vc não tiver cuidado com os labels vai prejudicar a navegação.

Segundo ponto é específico ao mecanismo de busca. Um bom sistema de busca não funciona sem meta-dados (keywords e descriptions), que são basicamente label. Os meta-dados contextualizam a informação, resolvem problemas de sinônimia e várias outras coisas. Um exemplo simples ví uma vez em um site de pesquisa escolar desenvolvido pela Akwan (não estou achando o link). Faça uma busca pelo termo "café com leite". Em Química isso é um tipo de mistura, em História isso foi um acordo político. Colocar meta-dados na informação resolve esse problema e como você pode ver, não é apenas uma questão editorial, existe um trabalho de pesquisa
cinetífica.


 
> 2) Esse fazer e pensar editorial é o mesmo há milênios. De repente,
> chega a web. E os cientistas da informação, que nunca pensaram como
> veículos, mas como depositários de informação, correm para dar as
> cartas. Faz sentido substituir um fazer tão antigo "só" porque a
> tecnologia (seu suporte ou meio de existência) é, digamos, novo? A web
> é nova, mas a humanidade continua pensando do mesmo jeitinho...

Concordo em partes. A web é nova, mas a humanidade é a mesma, com os mesmos sonhos pesadelos e necessidades. Porém a web é um meio diferente dos demais, e assim é preciso testar as velhas teorias, tanto da comunicação como da ciência da informação, e aprender como aplica-las a essa nova realidade.

 
> 3) O trabalho dos profissionais de AI é válido, claro. Mas acho q que
> todo esse povo, onde pretenciosamente me incluo de forma tangencial,
> se entenderia melhor e
entenderia melhor o que fazer se se
> classificassem como editores-assistentes ou simplesmente designers ou,
> num patamar menos sofisticado, diagramadores ou montadores, orientados
> por uma direção editorial superior (que pode inclusive ser mentalizada
> por alguém que entende muito de AI, ou seja, por alguém que entende os
> limites intrínsecos da mídia em questão, mas não entende esse saber
> como uma especialidade e, sim, como algo inerente, sem a qual esse ser
> superior, talvez editor, não seria...editor!).

Acho q de certa forma isso acontece no Brasil. Os profissionais brasileiros são mais polivalentes e multi-disciplinar que os americanos, mesmo porque não temos dinheiro para contratar um especialista em cada coisa :-)

> 4) O fato novo da web, em relação à história das mídias, é o
> componente híbrido de "interface" com um aparato informático (o
> computador) e, principalmente, a dificuldade de encontrar
nessa
> indústria uma "interface humana". A interface da página impressa
> dispensa comentários; a interface do aparelho de rádio foi sendo
> assimilada aos poucos, bem como da TV. Mas ambos são caixas com,
> relativamente, dois ou três botões básicos (e quando têm mais, quem
> usa??)
> 
> A interface é, na minha visão, um ramo específico da indústria da
> informática. Mas o fazer da indústria, qualquer uma, também é milen> ar.
> E o conhecimento humano adquirido que responde a isso é entendido na
> era moderna como design industrial. Os problemas e a lógica mental de
> um DI, para fazer um liquidificador usável por humanos, é o
> literalmente o mesmo que o problema para fazer uma interface humana. O
> que a Xerox estava fazendo ao criar as bases da GUI era desenho
> industrial, certo ou errado?

Sim. A ciência da Interação Humano-Computador nasceu da Ergonometria e da Interação Homem-Máquina
que estão diretamente relacionadas com o Desenho Industrial.


> 5) Os exemplos do Wurman citados pelo Reis me chamam atenção: a AI de
> mapas, tabelas etc sempre foi da alçada de designers, gráficos no
> caso. É como se um forte movimento corporativo dos biblioteconomistas
> corresse para ocupar lugar já ocupado...Ok, Wurman é arquiteto, saiu
> na frente, um gesto certeiro de marketing pessoal. Mas podemos afirmar
> que os arquitetos se apropriaram do design gráfico com muito mais
> sutileza e elegância. Por mais competente que ele seja em suas
> propostas, essa confusão mental e essa vontade de criar uma nova
> profissão me parece descabida. Tudo não passa de vertentes do design,
> ou de engenharia, como pensamento em busca de uma solução. Como sempre
> foi.

Concordo que existe um pouco de marketing pessoal do Wurman que tenta aplicar mais glamour ao seu trabalho de design. Mas o Wurman trouxe
uma nova visão para o trabalho de design, o que justifica o novo termo.

 
> 6) Mesmo o mais do que famoso diagrama do Garrett, o The Elements of
> the User Experiente, e outras toneladas de ferramentas de AI, ao meu
> ver, não preechem a simples lacuna: na esmagadora maioria dos casos, o
> que se está construindo é um veículo de comunicação. O processo mental
> corre em outra via... Ocorre que que as ferramentas de AI possuem um
> enfoque quase de engenharia, herança da planificação usada no
> desenvolvimento de software, com níveis de check list similares ao que
> se faria para se construir uma represa... Mas estamos falando de
> veículos de mídia, algo mutável no tempo por definição. Como a AI
> viciada pelo pensamento estático das bibliotecas lida com isso???


Não é bem assim. A AI é ao mesmo tempo ciência e arte. Do seu lado de ciência ela traz as recomendações que se transformam nos
check-lists que vc cita. Mas do seu lado arte vem a interpretação do arquiteto de como aplicar essas recomendações. Na AI assim com na usabilidade, quando se aplicam as recomendações em um contexto de uso elas podem se tornar contraditórias. Cabe ao arquiteto usar sua experiência para superar isso.

No fundo eu não defendo nenhuma posição xiita, em que a AI é o Santo Grau da web. Aliás não defendo posição xiita em relação a área nenhuma. O projeto de um website é multi-disciplinar. É preciso ter vários olhares para se fazer uma boa interface. Minha sugestão para você é não deixe de ter também o olhar de AI sobre os seus projetos e use o que lhe fizer mais sentido.



Abraços,

................. Guilhermo
www.guilhermo.com