Arquitetura da Informação (em Português)

["mauro pinheiro" <mauro.pinheiro AT gmail.com>]

Olá Paulo, tudo bem?

Eu nunca fui no USIHC + Ergodesign, mas aproveito o comentário do Fred
para fazer um comentário geral sobre os congressos de design (e afins)
dos quais tive oportunidade de participar: P&D Design (1998, 2006),
Congresso Internacional de Interação Humano-Computador (CLIHC 2003),
Congresso Internacional de Pesquisa em Design (2005), Congresso
Internacional de Design da Informação (2005 e 2007).

Destes, posso afirmar que os que mais me agradaram foram as duas
edições do Congresso Internacional de Design da Informação,
organizados pela SBDI (Sociedade Brasileira de Design da Informação).
Não tanto pelos trabalhos, apresentações e palestras que em vi, cuja
qualidade variou muito, mas pelo próprio **formato** do evento.

Nestes congressos da SBDI, ao contrário dos demais, deram preferência
a uma quantidade menor de trabalhos a serem apresentados, para que
houvesse mais tempo tanto para as apresentações em si quanto para os
debates posteriores. As apresentações eram de 30 minutos, e logo em
seguida ocorriam debates de 15 minutos.

Em outros congressos que fui o tempo de apresentação era de 15
minutos, e algumas vezes os debates não ocorriam logo em seguida, mas
somente ao final de uma sequencia de apresentações. Isso era um
problema, porque  muitas vezes assistíamos a uma apresentação de uma
determinada sessão e saíamos logo depois para assistir a uma outra que
ocorreria em outra sala, no mesmo horário. Com os debates ocorrendo só
ao final das sessões, muitas vezes a discussão era adiada ou perdida,
porque parte da audiência se mudara para outra sala.

Mais grave ainda, assisti algumas apresentações nas quais os autores
cometeram erros ou imprecisões relativamente graves, e que ficaram sem
comentário/discussão porque não havia tempo. Só ao final da sessão é
que poderia ser comentado. Mas com a mudança da audiência, muitos
debates foram esvaziados.

É importante ressaltar que esse problema NÃO é exclusivo dos
congressos de design. Pelo que tenho conversado com outros colegas
professores, isso tem acontecido em congressos de outras áreas, por
conta do modelo "produtivista" que tem imperado no meio acadêmico
brasileiro. Os órgãos de fomento científico brasileiro exigem uma
produção dos programas de mestrado e doutorado, os alunos e
professores são cobrados a ter artigos publicados. Os programas de
pós-graduação dependem dessa produção para que sejam bem avaliados
pelos órgãos de fomento, e por conta disso recebam bolsas, auxílios,
verbas etc.

Com isso muitos congressos têm optado pelo "volume" de trabalhos.
Preferem reduzir o tempo das discussões para que um número maior de
trabalhos sejam apresentados, e portanto, que mais alunos e
professores tenham trabalhos publicados, e com isso sejam melhor
avaliados os programas de pós-graduação pelos órgãos de fomento.

Desnecessário dizer o mal que isso causa ao meio acadêmico. Se não há
espaço para discussão e debate durante o evento, qual o sentido disso
tudo afinal?

Ao optarem por aumentarem o número de trabalhos apresentados, muitas
vezes os congressos têm permitido que trabalhos pouco relevantes,
pouco originais ou mesmo mal construídos sejam apresentados. A
qualidade das apresentações, dos artigos e do congresso fica
comprometida. Seria preferível assistir poucos trabalhos, mas que
fossem de fato relevantes, originais, provocativos, e que houvesse
tempo  para que os participantes de fato discutissem diferentes pontos
de vista no momento mais adequado, e não durante os intervalos, em pé,
entre cafés e brevidades.

Em alguns dos congressos que fui a quantidade de trabalhos sendo
apresentados simultaneamente era absurda! Assistir a um trabalho
significava deixar de assistir outros 7 ou mais...e para tentar ver os
trabalhos que me interessavam mais, tinha que ficar mudando de sala o
tempo todo, sem ter tempo de participar de qualquer debate. Foi muito
desgastante e frustrante.

É por isso que coloco o congresso de design da informação como o mais
interessante, dos que pude participar. Privilegiaram mais tempo para a
discussão, e havia um número menor de trabalhos sendo apresentados em
paralelo. Achei que a participação de todos era mais consistente do
que nos outros congressos.

O que não quer dizer que tenha achado as apresentações ou as
discussões excepcionais! Vi mais apresentações razoáveis do que boas,
e apresentações excelentes foram raras.

Desconfio muito dos grandes números. Aproveitando uma velha máxima do
design, nesse caso para mim 'less is more'.

Assim como você, Paulo, eu gostaria muito de saber como foram os USIHC
+ Ergodesign anteriores. Você está coberto de razão em perguntar sobre
o retorno que o investimento necessário para participar desse evento
pode trazer.

De qualquer forma, acho que é uma oportunidade interessante de fazer
contato mais próximo com seus pares brasileiros. Isso sempre é um fato
positivo dos congressos, a oportunidade de conhecer melhor as pessoas
que estão a pensar o design, trocar impressões e simplesmente
conversar.

Há muito a compartilhar além do conhecimento científico. :-)


um abraço,
mauro
-- 
prof. mauro pinheiro
universidade federal do espírito santo
centro de artes
depto. de desenho industrial



2008/4/28 Paulo Sousa <paulosousa_ci AT hotmail.com>:
> Eu moro no Porto, Portugal, e gostava de ir ao 8º USIHC + Ergodesign
> (Congresso Internacional de Ergonomia e Usabilidade e Design de Interfaces e
> Interação Humano-Computador), de 17 a 20 de Junho de 2008 | São Luís | no
> Maranhão.
>
> Assim sendo, gostava de saber a vossa opinião sobre o evento, é bom? As
> passagens de avião são caras e o evento tem de valer mesmo a pena.
>


2008/4/28 Frederick van Amstel <usabilidoido AT gmail.com>:
> Olá Paulo!
>
>  Dos congressos de Design no Brasil, o melhor que fui é o P&D, que
>  acontece este ano em São Paulo (e promete ser o maior de todos). Lá
>  você encontra além do pessoal que costuma apresentar trabalhos no
>  USIHC (deptos ligados à Ergonomia), pesquisadores de outras correntes.
>