Arquitetura da Informação (em Português)

[Letícia Cianconi de Paiva Rodas <lcianconi AT andima.com.br>]

Thiago, só um porém: eu não acho que esta discussão sobre metodologias em AI gire em torno de acadêmicos de um lado, profissionais de outro. Não acho que  "A", por defender que metodologia é algo que poda, seja mais profissional; e "B", por defender que uma metodologia não corta as asas da criatividade, seja, por conta desta defesa, acadêmico.

 

Abraços,

Leticia

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De: aifia-pt-bounces AT lists.ibiblio.org [mailto:aifia-pt-bounces AT lists.ibiblio.org] Em nome de Thiago Franco
Enviada em: quinta-feira, 26 de abril de 2007 12:35
Para: Arquitetura da Informação (em Português)
Assunto: Re: [AI] Sobre o profissional de AI

Para acalmar os espiritos, sem apagar a brasa dessa excelente 
discussao, seguem 2 referencias legais. 
Uma para o clube dos academicos, 
outra para o clube dos profissionais.

Para os academicos:
A research 
agenda for information architecture, by Peter Van Dijck 
http://www.poorbuthappy.com/ease/archives/2004/11/21/2167/

Para 
os profissionais:
The Confluence of Research and Practice in Information 
Architecture, by Karl Fast 
http://www.asis.org/Bulletin/Jun-06/fast.html

--Thiago

On 4/26/07, Guilhermo Reis <reis AT guilhermo.com> wrote:

Bruno,

 

Nada como pontos de vistas diferentes para termos uma boa discussão. Vou também colocar mais lenha na fogueira :-)

 

Eu não conheço profundamente o trabalho das agências de publicidade. Em todas as oportunidades que trabalhei com elas estava como cliente comprando o trabalho. Mas mesmo assim não acho que não exista uma metodologia, por mais simples que seja. Existe pelo menos o briefing, a criação e a produção. Um trabalho sério passa por tudo isso. Quando não passa os profissionais já anteveem os problemas. Quem já participou de um projeto com um briefing superficial já sabe, antes de começar a trabalhar, que o projeto será dificil, terá muito retrabalho, que o cliente vai pedir para mudar tudo, etc, etc, etc. Essa é a função de uma metodologia, orientar o trabalho para evitar problemas e diminuir as chances de falha.

 

Uma metodologia não poda a criatividade do profissional, muito pelo contrário. Ela já traz, por meio do acúmulo do conhecimento, alguns caminhos testados para que o profissional não perca tempo e foque sua criatividade em coisas novas, na inovação. Ela não traz  a resposta para tudo, mas traz algumas. Assim não precisamos inventar a roda a cada novo projeto. Uma metodologia nada mais é que o registro de experiências, do conhecimento que os profissionais acumularam com o tempo de trabalho.

 

Ninguém é obrigado a seguir uma metodologia ao pé da letra, ela não é uma religião, um dogma. Mas na minha opinião o que diferencia o bom profissional é a capacidade de saber quando não deve segui-la. Um bom profissional, assim como um bom médico, conheçe a metodologia profundamente e os seus limites. Ele sabe quando ela não se aplica em um caso real e decide não segui-la de forma consciente, conhecendo os riscos e as vantagens da sua decisão.

 

Concordo com você que a criação de uma metodologia não é a cura para todos os males. Se fosse assim a Medicina, por ser cheia de metodologias, não erraria. Um médico nunca daria um diagnóstico errado. Mas imaginar que o médico possa trabalhar sem metodologia é um cenário muito mais assustador. Imagine-o curando uma doença por tentativa e erro. Começa dando os remédios que começam com a letra A e vai até a letra Z. É bem provavel que o seu paciente não chegue vivo no final.

 

Assim, para mim uma metodologia não é apenas um apoio e sim uma estrada segura. Uma estrada que nunca vai estar finalizada, mas que permite percorrer com velocidade e segurança o trecho que já foi asfaltado.

 

Abraços,

 

..................... Guilhermo

 

Em 26/04/07, Bruno Canato <Bruno_Canato AT br.wunderman.com > escreveu:

Como o Reinaldo apontou, eu não disse que metodologia era completamente dispensável. Contesto, entretanto, a visão de que a metodologia per se é a solução de tudo, e postura que crê que, com a criação de uma metodologia, a qualidade média do trabalho de AI no país automaticamente melhora. Isso não acontece. E não ter metodologia não significa exatamente algo ruim.

Vamos por associações.

Muita gente aqui deve ter estudado Publicidade e Propaganda. Sabemos que essa área no Brasil é boa, em linhas gerais - e o curso não tem uma metodologia. As grades variam, drasticamente de universidade a universidade. Não existe Provão para este curso. Aliás, vale citar que em outros países com renome em propaganda, como EUA e Inglaterra,  a prática dela é empírica e, se muito, figuram cursos de especialização.  Isso afeta diretamente a prática? Não.

"Mas", alguém certamente vai dizer, "nem todo publicitário no Brasil é o Washington Olivetto." Justo. Nem todo arquiteto de informação no mundo é Jakob Nielsen. Profissionais excepcionais existem, são poucos, e sabe-se bem que nem todo mundo será como eles. Dura realidade. Mas o fato de existirem poucos excepcionais não quer dizer que não existam muitos profissionais bons por aí - mesmo sem a metodologia.

Metodologia é um padrão - Foi citado o exemplo da equipe ideal proposta no livro do urso branco. O modelo, é de fato, de dar água na boca - mas aquela equipe ideal certamente trabalha na CNTP - com projetos ideais, prazos ideais, orçamentos ideais. Se transportássemos ela para uma empresa de verdade, ela funcionaria naquele modelo? Aquele modelo vale para uma agência, uma empresa que desenvolve softwares, ambas de diferentes tamanhos? Mais do que isso - uma metodologia linda, hermética e universal atende as diversas demandas sempre? Pode-se até mesmo fazer fluxogramas de procedimentos de AI - só quero ver justificar o fluxograma com a metodologia sendo criada. Metalinguagem é traiçoeira. :p

Transportemos novamente a comparação para a medicina - uma área cheia de metodologias e atlas e estudos e referências. Alguém pode dizer que todos os procedimentos e diagnósticos estão facilmente catalogados e dispostos? Não. Certamente um médico precisa de sagacidade e vivência para discernir as coisas. Ele pode ter devorado todos tratados de metodologia, mas isso não necessariamente o faz um bom profissional - ou sinceramente alguém pode afirmar que duas pessoas que estudaram na mesma turma na mesma universidade têm obrigatoriamente o mesmo rendimento e competencia? E quantas práticas inovadoras e boas teriam sido perdidas não fosse a habilidade de burlar o caminho metodológico seguro e defendido. Muito, muito tempo atrás, médicos achavam que pus demonstrava que as feridas estavam se curando - imagina se ainda hoje os médicos forçassem infecções como então...

Metodologia pode ser pessoal. Mas se é para discutir o que faz um bom profissional, eu taco mesmo lenha na fogueira e questiono o quanto simplesmente NÃO PODE ser documentado e explicado - habilidades interpessoais, de relacionamento, e até mesmo capacidade cognitiva. Talento, se preferirem chamar assim. Porque, é claro, algumas pessoas se destacam e têm mais afinidade naturalmente.

Tudo isso, resumidamente, pra dizer que só a criação de uma metodologia brasileira de AI por si só não é " a cura para todos os males" - é, se muito, um apoio.

Bruno Canato


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